terça-feira, 5 de outubro de 2010

Conversas de bebum – Parte Final

(Parte 1? – Aqui)

No último capítulo, Jambo e Ruivão... Err, retomando para um rápido interlúdio. Depois da grande descoberta de que o logo da Puma tem um cachorro, podemos chegar a duas conclusões:

a)      O tio tava muuuuuito doido; ou

b)      Rapaz, os óculos eram tão piratas, mas tão piratas, que tinham o Pluto desenhado ou algo assim! Sério! Infelizmente dada a minha completa e total miopia, não foi possível validar esse fato, portanto vamos de primeira opção. Até porque, os próximos acontecimentos convalidam a primeira opção.

O tio tirou os óculos do amigo da embalagem – e por embalagem entenda apenas um saco plástico transparente – colocou-os, tirou os óculos que estavam no boné, “limpou” na camiseta suja e guardou no saquinho, dizendo:

Pronto! Esse agora é meu! Ele olhou para o rapaz ao lado dele (e nessa hora eu tive a vã sensação de ser salvo) e completou “Fala se não tá da hora! Rã!” A resposta do rapaz foi um breve acenar de cabeça. Ele pelo menos podia ter distraído o bebum por tempo o suficiente para que nós pudéssemos usar a velha tática Leão da Montanha: Saída pela direita...

Viagem segue – sim, ainda – o bebum olha pra gente e começa:

É que meu amigo mora longe, não dá pra ele comprá o óculos. A gente marco de ir pro mato junto. Tá tudo aqui na minha sacola! Eu trouxe o arroz e o bife... E tem uma farofinha. É chegá no mato é pá! Acende o fogo, esquenta o rango e pronto. (Nessa hora ele dá um tapa na sacola. Para nos dar certeza de que a comida estava lá. Acho que é uma nova modalidade de farofada no mato, ao invés de praia... Ou um disque sobrevivência: você liga e ele leva a comida e os óculos escuros para você, no mato!)

Tá tudo aqui... Eu até já tomei uma pinga. Porque quando você vai pro mato tem que toma umas cachaça – foram só duas – mas assim as cobra fica longe. Elas não picam quem tômo pinga.

Não tenho muita certeza, mas, se me conheço bem, nessa hora eu já devia estar com a boca aberta e olhos arregalados, olhando do bebum pra minha esposa e dela pro bebum outra vez.

Mas, sério, Bebum? Quer dizer que tomar pinga espanta as cobras? Porra, Instituto Butantã, o que vocês andaram fazendo que não testaram a cachaça nos ratinhos? Ia ser no mínimo interessante... Aliás, conheço um cara que estudava por lá. Ele dava banho nos ratinhos... Com mais uma pinguinha, um jantarzinho... Hein??? Já pensou??? O importante é a ordem, tá? Pinguinha, jantarzinho e depois o banho... Daí pra frente deixe a natureza seguir seu curso (Pode me xingar! Não dava pra perder a piada, irmão!).

Bom, já que não dava para acelerar a viagem e depois de uma dessas, só me restava ouvir o bebum. Ele olhava pra mim, olhava pra minha esposa – tenho dúvida se ele já não estava vendo dobrado e ficou rindo pra nós quatro, sem entender como cabiam tantas pessoas no trem.

Casal! Vocês viram que outro dia o casal foi assaltado lá em São Paulo! (É Amigão, acho que outro dia foi o casal e mais umas 550 pessoas! Ficou fácil saber a que notícia o senhor se refere). Mas fiquem tranqüilos, viu, eu não sou bandido. Sô trabalhadô. Num to trabalhando mais, só isso. Mas São Paulo tá perigoso, viu?

A coisa tá perigosa! (A conversa tinha virado um monólogo, eu só olhava pro bebum e me limitava a um ”é” e um “huhum” vez por outra). Eu vejo nos jornal todo dia! Uma vez eu viajei com uma bandida. É! Era uma mulhé, lora, que ficava conversando comigo. Do meu lado, assim, no ônibus. Simpática, cheia de jóia. Mas ela era bunita... Bunita que parecia feita no pincel, de tão bunita. E ela falava comigo. Quando o ônibus parou, os policia entrarô e falaram pra bandida fica quieta, que eles sabiam que ela tinha robado. E eu fiquei olhando, ela não falou nada... Mas era bunita, viu? (convenhamos, o cara tava bêbado, mas “bonita, que parecia feita no pincel”, já valeu a viagem inteira).

Não sei em que mato ele ia se enfiar, mas finalmente chegamos a Ribeirão Pires. Despedimos-nos do bebum com um rápido aceno de cabeça, e ouvindo ele se despedir.

Fiquem com Deus!

Ainda deu tempo de vê-lo se levantar até o banco do outro lado e dizer:

Oxê! Achei mais vinte e cinco centavos! Beleza, dá pra interá mais uma cachaça no boteco a hora que eu chega! Rárá!

É... Sinceramente, se a gente não ficasse ali por perto do centro mesmo, eu não ia pensar duas vezes pra pedir uma pinguinha... Sabe como é, Ribeirão Pires... Mato... Só pra espantar as cobras!

Um comentário:

Al Fear disse...

Bem feito. Quem mandou usar trem? Tá pensando que tá na Inglaterra?